Primeiro veio o Tobias, depois o Batatinha, depois o Miguel e depois a Mila. Quando o Batatinha tinha oito meses descobrimos, pelo ultrassom, uma doença de herança genética, muito comum em gatos persas, o PKD (doença dos rins policísticos). Desde então, tenho lutado para divulgar e conscientizar as pessoas sobre a existência desta doença.
A doença não tem cura, evolui para insuficiência renal e termina com óbito.
Acredito que exigir o teste de PKD ao adquirir um gato, principalmente da raça persa, possamos, no futuro, diminuir a herança genética, dizendo não aos criadores de má fé que se aproveitam da falta de informação das pessoas.
Foi com esse intuito que nasceu o Blog do "Batatinha elurofilia". Meu intuito é dividir minha vivência com meus "filhos" com outros elurófilos, simpatizantes e amantes de gatos, além de trocar experiências e informações relacionadas ao mundo felino.

sexta-feira, 11 de março de 2011

A longa e (incompleta) domesticação do gato


Descobertas genéticas e arqueológicas indicam que os gatos selvagens foram domesticados precocemente e em um local diferente do que se supunha


Às vezes, ele é alheio ou carinhoso; outras, sereno ou arisco; ou ainda, encantador ou irritante. Entretanto, apesar da natureza volúvel, o gato doméstico é o animal de estimação mais popular do mundo. Um terço dos lares americanos tem felinos, e mais de 600 milhões de gatos vivem entre os homens em todo o mundo. Mesmo assim, por mais familiares que esses animais sejam, é difícil comprovar totalmente suas origens. Enquanto outros animais selvagens foram domesticados devido ao leite, à carne, à lã ou ao trabalho, os gatos não contribuem praticamente em nada para as ações humanas em termos de sustento ou trabalho. Como, então, se tornaram tão comuns em nossos lares?

Os estudiosos já acreditavam há muito tempo que os antigos egípcios foram os primeiros a manter o gato como animal de estimação, há cerca de 3.600 anos. Mas as descobertas genéticas e arqueológicas feitas nos últimos cinco anos revisaram esse cenário – gerando conceitos mais atualizados tanto sobre a ancestralidade do gato doméstico quanto sobre a evolução de seu relacionamento com os seres humanos.

Cama-de-gato
A questão sobre o local de origem dos gatos é difícil de desvendar por vários motivos. Embora vários investigadores suspeitassem que todas as variedades descendiam apenas de uma única espécie – Felis silvestris, o gato selvagem – não podiam ter certeza. Além disso, essa espécie não está confinada a um pequeno canto do globo. É representada por populações que ocupam todo o Velho Mundo – da Escócia à África do Sul e da Espanha à Mongólia –, e até recentemente os cientistas não tinham como determinar, precisamente, quais dessas populações de gatos selvagens deram origem ao tipo mais manso, o chamado gato doméstico.

Como alternativa à hipótese da origem egípcia, alguns pesquisadores chegaram a propor que a domesticação do felino ocorreu em vários locais diferentes, e que cada domesticação gerou uma raça diversa. Para confundir ainda mais a questão havia o fato de os membros desses grupos de gatos selvagens serem difíceis de discernir dos domésticos com a pelagem tigrada, pois todos têm o mesmo padrão de pelagem de listas em curva e se acasalam entre si, confundindo ainda mais os limites populacionais.

Em 2000, um de nós (Driscoll) se propôs a estudar a questão, viajando e coletando amostras de DNA de 979 gatos selvagens e domésticos do sul da África, Azerbaidjão, Cazaquistão, Mongólia e Oriente Médio. Como em geral os gatos selvagens defendem um único território durante toda a vida, ele esperava que uma composição genética de grupos de gatos selvagens variasse conforme a geografia, mas permanecesse estável no tempo, como ocorre com muitas outras espécies felinas. Se os grupos autóctones regionais desses animais pudessem ser distintos, uns dos outros, com base no DNA; e se o DNA de gatos domésticos fosse mais semelhante que o das populações de gatos selvagens, ele teria uma evidência clara de onde a domesticação se iniciou.

Na análise genética, publicada em 2007, Driscoll e outro de nós (O’Brien) e colegas se concentraram em dois tipos de DNA que os biólogos moleculares tradicionalmente examinam para diferenciar os subgrupos de espécies mamíferas: o DNA mitocondrial, herdado exclusivamente da mãe, e pequenas e repetitivas sequências do DNA nucleico, denominado microssatélites. Usando rotinas já estabelecidas no computador, avaliaram a ancestralidade de cada um dos 979 indivíduos da amostragem, baseando-se em suas assinaturas genéticas. Especificamente, mediram como o DNA de cada gato era semelhante ao de todos os gatos e agruparam os animais com DNAs similares. Então, perguntaram se a maioria dos animais de um grupo habitava a mesma região.
Os resultados revelaram cinco agrupamentos genéticos, ou linhagens, de gatos selvagens. Quatro dessas linhagens correspondiam exatamente a quatro das subespécies conhecidas de gato selvagem que habitam locais específicos: a F. s. silvestris na Europa, a F.s. bieti na China, a F. s. ornata na Ásia Central e a F.s. cafra no sul da África. No entanto, a quinta linhagem incluiu não apenas a quinta subespécie conhecida do gato selvagem – a F. s. lybica do Oriente Médio –, mas também as centenas de gatos domésticos da amostragem, incluindo os de raças puras e os felinos híbridos dos Estados Unidos, Reino Unido e Japão. Geneticamente, os gatos selvagens F. s. lybica coletados nos distantes desertos de Israel, nos Emirados Árabes ou na Arábia Saudita eram praticamente indistinguíveis dos gatos domésticos. O fato de eles se agruparem apenas com o F. s. lybica sugere que os gatos domésticos de todo o mundo surgiram de um único local, o Oriente Médio, e não de outras regiões, onde os gatos selvagens são comuns.

Assim que descobrimos o local de origem dos gatos domésticos, o próximo passo foi determinar quando foram domesticados. Com frequência, os geneticistas podem estimar quando um evento evolucionário particular ocorreu, estudando a quantidade de mutações genéticas randômicas que se acumulam a uma taxa constante ao longo fodo tempo. Mas esse “relógio molecular” anda devagar demais para datar precisamente eventos tão recentes quanto os últimos dez mil anos, o intervalo provável da domesticação do gato. Para se ter uma ideia de quanto se iniciou o amansamento do gato, nos voltamos ao registro arqueológico. Uma descoberta recente provou-se especialmente esclarecedora em relação a essa questão.

Em 2004, Jean-Denis Vigne, do Museu Nacional de História Natural de Paris, e seus colegas reportaram ter desenterrado as evidências mais antigas sugerindo que os homens mantinham os gatos como animais de estimação. A descoberta vem da ilha mediterrânea de Chipre, onde, há 9.500 anos, um adulto humano de sexo desconhecido foi deixado para o descanso fi nal em uma cova rasa. Objetos variados acompanhavam o corpo: ferramentas de pedra, um pedaço de óxido de ferro, um punhado de conchas e, em sua própria minúscula cova, a apenas 40 cm de distância, um gato de oito meses de idade, o corpo voltado na mesma direção oeste que o do humano.

Como os gatos não são nativos das ilhas mediterrâneas, sabemos que as pessoas os trouxeram de barco, provavelmente da costa oriental ao lado. Juntos – o transporte de gatos à ilha e o enterro do humano próximo ao gato – indicam que as pessoas do Oriente Médio já tinham uma relação especial, intencional, com os gatos há quase dez mil anos. Essa localização é consistente com a origem geográfica a que chegamos por meio das análises genéticas. Portanto, parece que os gatos foram sendo domesticados ao mesmo tempo que o homem se estabelecia nos primeiros povoados na parte do Oriente Médio conhecida como Crescente Fértil.

Jogo de Gato e Rato?
Com o estabelecimento do local e da idade aproximada das fases iniciais da domesticação dos gatos, pudemos começar a analisar novamente a velha questão: por que os gatos e os humanos desenvolveram uma relação especial? Em geral, os gatos não são candidatos prováveis à domesticação. Os ancestrais da maioria dos animais domésticos viviam em manadas ou bandos com hierarquias de domínio bem definidas. (Os homens, espertamente, se aproveitaram dessa estrutura suplantando o indivíduo alfa, facilitando, assim, o controle de grupos coesos inteiros.) Esses animais de manadas já estavam acostumados a viver em bandos; portanto, desde que houvesse comida e abrigo, se adaptavam facilmente ao confinamento.

Mas os gatos são caçadores solitários, que defendem os limites de seu lar bravamente contra outros gatos do mesmo sexo (os orgulhosos leões são a exceção a essa regra). Além disso, enquanto a maioria dos animais domesticados se alimenta de plantas, bem abundantes, os gatos são carnívoros natos, ou seja, têm uma capacidade limitada de digerir qualquer coisa além da carne – um item de cardápio muito menos disponível. De fato, até mesmo perderam a capacidade de distinguir o sabor de carboidratos doces. No quesito utilidade para o homem, vamos apenas dizer que não são nada propensos a seguir ordens. Esses atributos sugerem que enquanto os outros domesticados foram resgatados da vida selvagem pelos homens, que os criaram para tarefas específicas, os gatos mais provavelmente optaram por viver entre os homens, devido às oportunidades que eles próprios encontraram.

Os povoamentos iniciais do Crescente Fértil entre nove e dez mil anos atrás, durante o período neolítico, criaram um ambiente totalmente novo para quaisquer animais selvagens que fossem suficientemente flexíveis e curiosos (ou apavorados e famintos) para explorá-lo. O camundongo doméstico, o Mus musculus domesticus, foi um desses animais. Os arqueólogos descobriram restos desse roedor, originário do subcontinente da Índia, no meio dos primeiros depósitos de grão selvagem dos homens, em Israel, datando de cerca de dez mil anos atrás. O camundongo provavelmente não conseguia competir bem com os camundongos selvagens locais que viviam ao ar livre, mas mudando-se para as casas e armazéns das pessoas, proliferou.

É quase certo que, no caso, esses camundongos atraíram os gatos. Mas as montanhas de lixo nos arredores das cidades provavelmente também foram um grande atrativo, fornecendo recursos o ano inteiro para os felinos que tivessem a esperteza de explorá-los. Essas duas fontes de alimento teriam incentivado os gatos a se adaptarem à vida junto aos homens; usando o jargão da biologia evolucionária, a seleção natural favoreceu os gatos que foram capazes de coabitar com os homens e assim ganharem acesso ao lixo e aos camundongos.
Com o tempo, os gatos selvagens mais tolerantes com a vida nos ambientes dominados pelos homens começaram a proliferar em vilarejos em todo o Crescente Fértil. A seleção nesse novo nicho teria sido principalmente pela mansidão, mas a competição entre os gatos também teria continuado a influenciar sua evolução e a limitar sua docilidade. Como, sem dúvida, esses protogatos domésticos foram deixados para se virar sozinhos, suas aptidões de caça e de remexer o lixo permaneceram agudas. Ainda hoje, a maioria dos gatos domesticados é independente e consegue sobreviver facilmente sem os humanos. Isso fica claro observando o enorme número de gatos soltos nas metrópoles, cidades e vilarejos de todo o mundo.

Considerando-se que os gatos pequenos obviamente não provocam muito dano, as pessoas provavelmente não se importaram com a companhia deles. Elas podem, até mesmo ter incentivado os gatos a ficar ao redor ao ver que afugentavam os camundongos e as cobras. Os gatos também podem ter tido outro atrativo. Alguns especialistas especulam que os gatos selvagens têm características que podem tê-los pré-adaptados a desenvolver uma relação com as pessoas. Em especial, esses gatos têm traços “graciosos”: olhos grandes, um rosto arrebitado e alongado, a testa alta e arredondada, dentre outros – conhecidos por evocar carinho e proteção dos humanos. A causa mais provável, porém, pode ter sido que algumas pessoas levaram os gatinhos para casa apenas porque os acharam adoráveis e os amansaram, propiciando-lhes o primeiro passo dentro do lar humano.

Por que a F. s. lybica, o gato selvagem africano, foi a única subespécie de gato selvagem a ser domesticada? As evidências dos relatos sugerem que algumas outras subespécies, como o gato selvagem europeu e o gato-da-areia da China são menos tolerantes com as pessoas. Se for assim, esse traço em si pode ter impedido a sua adoção em lares. Em contraposição, os gatos selvagens mais amistosos do sul da África e da Ásia Central podem muito bem ter sido domesticados sob condições favoráveis. Mas a F.s. lybica tinha a grande vantagem de estar perto dos primeiros povoamentos. Conforme a agricultura se espalhou, a partir do Crescente Fértil, houve o amansamento da F. s. lybica, preenchendo o mesmo nicho em cada região em que penetravam – e efetivamente fechando a porta para as populações nativas de gatos selvagens. Se os gatos domésticos do Oriente Médio nunca tivessem chegado à África ou à Ásia, talvez os gatos selvagens autóctones pudessem ter sido atraídos para os lares e vilarejos conforme as civilizações se desenvolviam.

Ascensão da Deusa
Não sabemos quanto tempo levou a transformação do gato selvagem africano para um companheiro doméstico carinhoso. Os animais podem ser domesticados bem rapidamente sob condições controladas. Em uma famosa experiência iniciada em 1959, cientistas russos, usando procedimentos altamente seletivos de raças, produziram raposas prateadas mais mansas a partir de espécimes selvagens em apenas 40 anos. Mas sem portas ou janelas, os agricultores neolíticos não teriam a possibilidade de forçar o controle da raça dos gatos mesmo se quisessem. Parece razoável sugerir que a falta da influência humana na apuração de raças e no provável cruzamento entre gatos domésticos e selvagens evitaram o amansamento rápido, atrasando a transformação, que só ocorreu em milhares de anos.
Embora a linha de tempo exata da domesticação do gato permaneça nebulosa, evidências arqueológicas já conhecidas há muito tempo permitem alguma compreensão desse processo. Depois da descoberta cipriota, as próximas indicações mais antigas da associação entre homens e gatos são um dente molar de um felino de um depósito arqueológico em Israel, que data aproximadamente de nove mil anos, e outro dente no Paquistão, de cerca de quatro mil anos.

O testamento da domesticação completa vem de um período muito porterior. Uma estatueta, de Israel, de um gato em marfim, de quase 3.700 anos, indica que o animal era comumente visto perto de lares e vilarejos do Crescente Fértil antes de sua introdução no Egito. Esse cenário é lógico, já que todos os outros animais domésticos (exceto o asno) e as plantas foram introduzidos no vale do Nilo a partir do Crescente Fértil. Mas são as pinturas egípcias, do chamado período do Novo Império (a era de ouro do Egito iniciada há pouco mais de 3.500 anos), que propiciam as representações conhecidas mais antigas e definitivas da domesticação total. Essas pinturas mostram tipicamente os gatos sob as cadeiras, às vezes, com coleiras ou focinheiras e, com frequência, comendo das tigelas ou se alimentando de sobras. A abundância dessas ilustrações sinaliza que os gatos tinham se tornado membros comuns dos lares egípcios naquela época.

Em grande parte, é devido a essas imagens evocativas que os acadêmicos tradicionalmente percebem o Egito antigo como o local da domesticação dos gatos. Entretanto, mesmo as mais antigas representações egípcias de gatos selvagens são 5 mil ou 6 mil anos mais recentes que o enterro cipriota de 9.500 anos atrás. Embora a cultura egípcia antiga não possa reivindicar o início da domesticação do gato, entre suas várias conquistas, com certeza, ela teve um papel essencial na posterior formação da dinâmica da domesticação e da dispersão de gatos por todo o mundo. De fato, os egípcios levaram o amor aos gatos a outro nível. Há 2.900 anos, o gato doméstico se tornou a divindade oficial do Egito, na forma da deusa Bastet, e os gatos domésticos eram sacrificados, mumificados e enterrados, em grande número, em Bubastis, cidade sagrada de Bastet. Avaliado em toneladas, o incrível número de gatos mumificados, lá encontrados, indica que os egípcios não apenas recolhiam populações ferais ou selvagens, mas pela primeira vez na história, criavam ativamente os gatos domésticos.

Durante séculos, o Egito proibiu oficialmente a exportação de seus venerados gatos. Entretanto, há cerca de 2.500 anos, os animais conseguiram chegar à Grécia, o que prova a ineficiência da proibição de exportação. Mais tarde, navios carregados de grãos zarparam diretamente de Alexandria para vários destinos do Império Romano e, com certeza, havia gatos a bordo para dar conta dos ratos. Dessa forma, os gatos devem ter estabelecido colônias em cidades portuárias, e a partir daí se espalharam. Há aproximadamente 2.500 anos, enquanto os romanos expandiam seu império, os gatos domésticos viajaram com eles, acabando por se tornar comuns em toda a Europa.

Aperfeiçoamento em Busca da Beleza
Embora os seres humanos possam ter desempenhado um papel de menor importância no desenvolvimento das raças naturais do Oriente, o esforço para produzir novas raças teve início há relativamente pouco tempo. Mesmo os egípcios, que sabidamente criavam gatos extensivamente, não pareciam buscar traços característicos, provavelmente pelo fato de não terem surgido na época variações distintas: em suas pinturas, tanto os gatos selvagens quanto os domésticos foram retratados com o mesmo tipo de pelo tigrado. Com base nos escritos de história natural do artista Harrison Weir, especialistas acreditam que a maioria das espécies contemporâneas foi criada nas Ilhas Britânicas, no século 19. Em 1871 ocorreu a primeira exposição de gatos, com raças criadas para o fim específico de chegar a determinada aparência. Os animais foram exibidos no Crystal Palace, em Londres (a vitória coube a um persa, embora os siameses tenham provocado alvoroço).

Hoje, a Cat Fancier’s Association e a International Cat Association reconhecem quase 60 raças de gatos domésticos. Apenas cerca de uma dúzia de genes é responsável pelas diferenças na cor, comprimento e textura dos pelos, assim como por outras características mais sutis, como a tonalidade e o brilho da pelagem das raças.

Graças ao sequenciamento do genoma completo de um gato abissínio, chamado Cinnamon, em 2007, os geneticistas vêm identificando rapidamente as mutações que produzem esses traços, como as cores malhada, o preto, o branco e o laranja, o pelo longo e muitos outros. Entretanto, além das diferenças nos genes relativos à pelagem, a variação genética entre as espécies de felinos domésticos é muito sutil, comparável à diferença entre as populações humanas próximas, como franceses e italianos.

A ampla gama de tamanhos, formas e temperamentos, encontrada em cães (comparem um chihuahua com o enorme dinamarquês), é inexistente entre os gatos. Os felinos mostram muito menos variedade, pois, diferentemente dos cães que, desde os tempos pré-históricos, eram criados visando certas tarefas, como a guarda, a caça e o pastoreio, os gatos selvagens não foram submetidos a essas pressões de criação seletiva. Para entrar em nossos lares, tiveram apenas de desenvolver certa disposição amigável em relação aos homens.

E será que os gatos atuais estão realmente domesticados? Bem, sim, mas apenas o suficiente, pois embora satisfaçam o critério de tolerar os seres humanos, a maioria dos gatos domésticos ainda é livre e não conta com os homens para alimentá-lo ou para se acasalar. E, se por um lado, outros animais domesticados, como os cães, pareçam bastante diferentes dos seus ancestrais, o gato comum doméstico mantém muito da sua aparência original. Existem algumas diferenças morfológicas: as pernas mais curtas, um cérebro menor e, como bem notou Charles Darwin, um intestino mais comprido, que pode ser uma adaptação advinda do ato de remexer sobras de cozinha.

Mesmo assim, o gato doméstico está longe de parar de evoluir. De posse da tecnologia de inseminação artificial e da inseminação in vitro, hoje os criadores de gatos impulsionam a genética dos felinos domésticos em direção a um terreno inexplorado: estão criando gatos domésticos híbridos com outras espécies de felinos, produzindo novas espécies exóticas. O gato bengal e o caracata, por exemplo, resultaram do cruzamento do leopardo asiático com o caracal, respectivamente. O gato doméstico pode, por isso mesmo, estar às portas de uma evolução radical e sem precedentes, em um animal composto de multiespécies, cujo futuro só pode ser imaginado.


Texto: Carlos A. Driscoll, Juliet Clutton-Brock, Andrew C. Kitchener e Stephen J. O’Brien Carlos A. Driscoll faz parte da equipe da Unidade de Pesquisa sobre a Preservação de Animais Selvagens da University of Oxford e do Laboratório de Diversidade Genômica do National Cancer Institute (NCI). Em 2007, publicou a primeira árvore genealógica, com base no DNA, do Felis silvestris, a espécie à qual pertence o gato doméstico. Juliet Clutton-Brock, fundadora do International Council for Archaeozoology, é pioneira no estudo da domesticação e dos primórdios da agricultura. Andrew C. Kitchener é o curador principal de mamíferos e aves do National Museums of Scotland, onde estuda a variação geográfica e a hibridação dos mamíferos e aves. Stephen J. O’Brien é chefe do Laboratório de Diversidade Genômica do NCI. Estudou a genética de guepardos, leões, orangotangos, pandas, baleias jubartes e do HIV. Este é seu quinto artigo para a SCIENTIFIC AMERICAN.

Nenhum comentário:

Postar um comentário